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Como parte da programação do V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas (V CONBRAU), realizado no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, no período de 16 a 18 de outubro, a oficina "Abordagem interdisciplinar dos Extremos Climáticos no Pantanal: impactos hidrológicos, ecológicos, econômicos e adaptações frente aos cenários futuros", reuniu representantes de diversas instituições, que além de apresentarem o cenário dos impactos das mudanças climáticas e do aquecimento global no Pantanal, também sugeriram soluções para mitigar esses impactos. 

A oficina reuniu representantes da WetlandsInternational (organizadora da oficina), ITEC-Brasil, Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Embrapa Pantanal, IFMS (Instituto Federal do Mato Grosso do Sul), INCT-INAU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas) CRBio (Conselho Regional de Biologia) e o do setor privado atuante na Bacia do Alto Paraguai. 

Os palestrantes apresentaram estudos sobre: as tendências climáticas para a bacia do Alto Paraguai e Pantanal; os impactos na hidrologia do Pantanal frente aos cenários de mudança climática; o aumento da frequência e intensidade de eventos extremos: secas, ondas de calor e incêndios florestais.

A professora-doutora da UFMT, Cátia Nunes da Cunha, citou questões como o de uso da terra na área que forma a Bacia do Alto Paraguai, irrigação, escassez hídrica em função de secas prolongadas, fatores que estão atingindo o Pantanal, tendo como consequência cenários como estiagem extrema e incêndios cada vez maiores e mais frequentes.

O pesquisador do IFMS, Nilson da Silva, apresentou o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), com a escala temporal até 2020 indicando a temperatura média do planeta. O problema é a velocidade do aumento da temperatura no planeta nas últimas décadas, resultando em uma curva alarmante no gráfico. Também apresentou como a quantidade acumulada de CO2 está relacionada ao aumento da temperatura e os cenários futuros resultantes desta relação. Apresentou os dados históricos, da era pré-industrial, com métricas de intensidade e frequência de alterações na temperatura média, utilizado para indicar quais são os eventos de calor e frio extremos na contemporaneidade e de seca severa.

 

Há concordância de que a ocorrência de eventos de seca extrema é um evento global, e que na nossa região há incertezas quanto aos eventos de chuvas e secas extremas. Diferente da região do Rio Grande do Sul, onde há quantidade suficiente de trabalhos científicos indicando que a propensão para a região é de aumento de eventos de chuvas extremas, o mapa de previsibilidade climática para a América do Sul indica incerteza para a Bacia do Alto Paraguai. O período entre 2021 e 2050 indicam decréscimos na precipitação. Em nível continental, os índices de precipitação, onde ao haver secas extremas no Sul geralmente há chuvas extremas no norte e vice-versa. 

Impactos na hidrologia do Pantanal frente aos cenários de mudança climática 

O pesquisador da Embrapa, Dr. Carlos Padovani apresentou modelos climáticos hidrológicos para a Bacia do Alto Paraguai em escala continental, comparando a proporção de chuvas nas diferentes regiões do continente. Há maior concentração de chuvas na região alta da Amazônia, próximo ao equador. Indica que o Pantanal está na transição entre a Amazônia e uma das regiões mais secas do continente, o Chaco. Indica a espacialidade de precipitações na bacia, de que há concentração das precipitações na região de cabeceiras dos rios formadores do Pantanal. Relatou a importância dos rios voadores que passam pela Amazônia e que alimentam as precipitações na Bacia do Alto Paraguai. São fortes as influências dos fenômenos meteorológicos que mantém a aridez do Chaco Paraguaio, reforçando o cenário de seca atual. Assim, é importante salientar que além da Amazônia, os fenômenos meteorológicos do Chaco são igualmente relevantes para o Pantanal. 

No mapa de frequência de inundação, o palestrante destacou que as áreas de maior frequência de inundação devem ser priorizadas para manejo e conservação, pois o Pantanal é sensível aos cenários de aridez e aumento de eventos extremos, as planícies ficam mais expostas as queimadas, são nestas áreas que predominam as ATTZs, onde há maior conectividade entre rio e planície, são os macro habitats que atuam como corredores naturais da biodiversidade, onde se concentram as comunidades tradicionais e onde há interesse de uso múltiplo para turismo, pecuária, pesca. A principal mensagem quanto às mudanças climáticas para a região é de incerteza, mas que haverá aumento da frequência e intensidade de eventos extremos.

O físico Djacinto Monteiro dos Santos apresentou o gráfico com anomalias da temperatura média global à superfície, e relatando que a cada vez mais ultrapassamos o limite indicado de 1.5ºC como nível crítico de mudanças. Eventos extremos são mais frequentes, mais intensos, ocorrem em novos locais, tem tido mudanças na duração, resultando em novas combinações também denominados eventos compostos. 

Eventos que na era pré-industrial ocorriam uma vez por década ocorrem, atualmente, dez vezes por década. Apresenta os eventos compostos de calor e seca no Pantanal, indicando anomalias de temperatura nunca identificadas, de que houve muitas áreas no Pantanal afetadas por ondas de calor, e que estas anomalias de calor ocorreram simultaneamente com anomalias negativas de umidade no solo, déficit de precipitação, e esta combinação gera os incêndios intensos de 2020 e 2024. Os dados compilados podem indicar a prioridade de áreas no Pantanal para ações de manejo, conservação e gestão ambiental. 

Reflexões sobre a urgência das mudanças climáticas para o Pantanal

A coordenadora de políticas da WetlandsInternational Brasil, Áurea Garcia, destacou a importância das diversas instituições envolvidas no planejamento e manejo do fogo entre outras mudanças relacionadas ao pantanal e destacou a importância de ouvir a população local, devido ao conhecimento de cada um deles sobre o comportamento do fogo. Convenções globais são importantes espaços para discussão dos problemas atuais ambientais e na busca de poder alcançar onde o governo não alcança com suas ações. A partir do conhecimento científico dialogar com os diversos setores para buscar ações efetivas e aplicáveis. 

Sugestões para mitigação das mudanças climáticas no Pantanal 

Os participantes elencaram inúmeras ações necessárias para mitigar os impactos das mudanças climáticas no Pantanal, como: prioridade para a preservação e recuperação das cabeceiras, onde há a concentração de chuvas que alimentam a Bacia do Alto Paraguai; propor aos órgãos de fomento o lançamento de editais específicos para captação de recursos humanos para estudos na região; manutenção da capacidade da Amazônia em manter rios voadores que atinjam satisfatoriamente a Bacia do Alto Paraguai; reforçar a conectividade entre os fenômenos atmosféricos amazônicos com a Bacia do Alto Paraguai; manter a boa infiltração na parte alta da Bacia para que esta retenha água suficiente para a estação seca; colocar em prática o controle sobre a outorga para instalação de poços artesianos (poços artesianos para fins agrícolas podem causar rebaixamento severo no lençol freático, diminuindo a vazão de base); realizar a implementação dos estudos científicos realizados, oficializando o papel do cientista como contribuinte da elaboração de políticas públicas; comunicar diretamente com a sociedade para melhorar a compreensão, entendimento e aumentar o peso das publicações realizadas; sistematização dos estudos realizados no Pantanal para buscar quais são vinculados à planos de adaptação à mudanças climáticas futuras; implementação de monitoramento de qualidade do ar pelos impactos para a saúde da população no território; foco em estudos nos aquíferos nas adjacências do Pantanal, Furnas, Guarani, Aquidauana, Parecis; integração de diferentes planos de monitoramento: atmosférico, hidrológico e outras características ambientais.